Segredo industrial, rumores, expectativa e até um caso de polícia na China aumentam a mística em torno de um computador sensível ao toque
Um líder inspirador, alto investimento em pesquisa, marketing e mística. Há muitas razões para que a Apple se destaque entre as empresas mais admiradas no mundo. Acrescentemos à lista o fator surpresa. Não foram poucas as vezes que o mundo parou para ver Steve Jobs subir ao palco de algum evento de tecnologia e anunciar um produto revolucionário. Foi assim com o iPod, com o iPhone e com o MacBook Air, para ficar nos exemplos mais recentes. Por mais que boatos prévios se espalhem, os produtos quase sempre surpreendem. O rumor da vez é sobre um computador do tipo tablet, com tela de 9,7 polegadas sensível ao toque. Ele vem sendo chamado por analistas e pelos applemaníacos de “iTouch Tablet”. Seria uma espécie de iPhone gigante, com funções de notebook, tocador de música e leitor de livros eletrônicos, tudo controlado pelo toque dos dedos na tela. A Apple não fez nenhum comunicado oficial sobre o produto, mas um site especializado na empresa e o influente jornal inglês Financial Times sugerem um lançamento em breve.
A especulação sobre o tablet da Apple começou há anos, principalmente após o desenvolvimento do sistema de multitoque do iPhone, que melhorou a navegação pela internet por meio dos dedos. Só agora, porém, a Apple teria dois grandes e bons motivos para lançá-lo. Numa tacada só, a empresa invadiria dois mercados que deverão crescer bastante nos próximos anos: o de netbooks (que surgiu em 2007 e deverá dobrar neste ano) e o de leitores de livros eletrônicos, como o Kindle, da Amazon, que deverá vender 800 mil cópias em 2009 (também o dobro do que foi vendido no ano passado).
Pouco se sabe sobre as configurações do iTouch Tablet. A tela teria resolução de 1.024 por 600 pixels (como comparação, o iPhone tem tela de 3,5 polegadas com 480 por 320 pixels de resolução). De acordo com Harry McCracken, autor do blog Technologizer, o sistema operacional seria uma versão adaptada do iPhone OS, com algumas melhorias para facilitar a navegação na internet e a exibição de filmes e músicas. Ele teria câmera frontal para chat por vídeo, GPS, leitor de cartões SD para importar fotos, wi-fi integrado e, provavelmente, bluetooth. Fica a dúvida se traria entrada para chips de celulares, para navegar usando a rede das operadoras. O usuário teria acesso a mais de 65 mil programas disponíveis na App Store e a músicas, vídeos e livros eletrônicos da iTunes Store. Estimativas de preço apontam para US$ 800, mais que um netbook, mas menos que um MacBook, o notebook da Apple. Essas configurações foram reforçadas por Philip Elmer-DeWitt, jornalista que acompanha novidades da Apple desde 1982 e mantém o blog Brainstorm Tech.
Várias notícias vêm reforçando a tese de que o lançamento está próximo. Em março, a agência Reuters divulgou que a Apple havia encomendado em Taiwan um grande volume de telas de 10 polegadas sensíveis ao toque. Em abril, foi a vez de o Wall Street Journal afirmar que Steve Jobs, mesmo de licença para tratar da saúde, comandava pessoalmente um projeto de tablet. Em junho, o jornal China Times noticiou que a Apple começaria a vender um produto com valor equivalente a US$ 800. A data de lançamento do tablet da Apple ainda é uma incógnita, mas fala-se já em setembro deste ano ou no início de 2010. Por mais otimistas que fiquem os fãs da marca, não se pode ter certeza de nada. A Apple leva muito a sério seus segredos industriais. Um exemplo disso foi a tragédia ocorrida há um mês na China.
No início de julho, Sun Danyong, prestador de serviços da Apple, reportou à empresa a perda de um dos 16 protótipos da quarta geração do iPhone. Sun, de 25 anos, trabalhava na Foxconn, fabricante terceirizada de telefones da Apple em Shenzhen, na região chinesa de Cantão. Ele deveria levar os 16 protótipos para avaliação. Após a comunicação da perda, a Foxconn iniciou uma investigação interna para encontrar o aparelho. Sun tornou-se suspeito de roubo. As ações envolveram uma busca ilegal em seu apartamento. De acordo com jornais locais, o jovem chegou a ser preso e maltratado por seguranças contratados pela empresa. Pode ser que a pressão tenha contribuído para a morte de Sun Danyong. Aparentemente, ele cometeu suicídio ao se atirar do 10º andar do prédio onde morava.
As autoridades abriram investigação para apurar eventuais abusos cometidos pela Foxconn e pela Apple. A Apple lamentou o ocorrido em um comunicado: “Ficamos tristes com a trágica perda desse jovem funcionário e aguardaremos o resultado da investigação de sua morte. Pedimos a nossos fornecedores que tratem todos os funcionários com dignidade e respeito”.
Por Bruno Ferrari / Oi Conhece
Nenhum comentário:
Postar um comentário